quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Birras que se fazem a dois!

Ontem fiz uma birra das grandes, daquelas horríveis.
Dei por mim a pensar no que tinha acontecido, no que tinha dito... e andei com um pensamento todo o dia, proverbio sueco "Ama-me mais quando menos merecer, que é quando mais preciso.

Contextualizando: quando se pede alguma coisa à Popotinha que quebra a linha de intensões que tem para os próximos momentos da vida dela, ela reage com raiva e zanga.
Coisas do tipo: "Anda jantar!", ou "Veste-te primeiro!". A resposta tem sido arrasadora para mim: "Tu és má!", lavada em lágrimas, e gritos.
Ora ontem não consegui digerir nem reagir da melhor forma.

Faz-me sentido desabafar, mas também desmontar isto.
Quando falei com ela, à noite, antes de dormir, retive duas coisas que comentou comigo: "Não sei dizer as coisas, às vezes! E eu queria mesmo acabar de ver aqueles bonecos." e pediu-me afincadamente "Mamã, respira. Tens de respirar mais."

Simples! Vê aqui a estratégia de "3 Step/Minutes Breathing Space"!

Na verdade eles ainda não reconhecem as emoções, não têm vocabulário para falar sobre elas, para saber canalizar e gerir. 
Mas reparem, a frase "És má!" é um ataque ao ego. Nós ficamos profundamente magoados, irados, tristes, frustrados... 
Agora imaginem o que isto faz na auto-estima, imagem e ego de uma criança quando se lhe dirigimos com sermões do tipo "És mentiroso. És um bruto. Assim não te deixo fazer nada. Não confio em ti... És mau! És mesmo mau.
Quais são as tuas intensões para com a educação do teu filho? O que ele aprende com isto? Vale a pena reposicionarmo-nos!
Na maioria das vezes estamos a referirmo-nos a comportamentos que tiveram e não a eles. A atitude e a forma é que deve ser redirecionada.

Se conseguirmos ter isto em mente, se efetivamente, respirarmos, e conseguirmos ter 3 segundos ou até menos, conseguimos agir de forma diferente.
  • Reconhecer a emoção
  • Como é que ela te faz sentir
  • E só depois, só depois ... redirecionar e explorar outras formas de agir, de lidar.

Lembra-te

Partilho ainda um texto de uma mãe, que conta a sua reação depois do filho ter tido um ataque de raiva e acabou por partir um espelho. Vê aqui!

Vamos aprendendo, maravilhosas partilhas.

domingo, 3 de janeiro de 2016

"...um Ser Humano!"


"...um herói e um mártir não é um protótipo abstrato nem um modelo de perfeições, mas sim um ser humano, feito de contradições e de contrastes, fraquezas e grandezas, dado que um homem, como escreveu José Enrique Rodó, 'é muitos homens', o que quer dizer que anjos e demónios se misturam na sua personalidade de maneira intricada."


"... como prova de que é impossível chegar a conhecer de forma definitiva um ser humano, totalidade que escorrega sempre de todas as redes teóricas e racionais que tentam capturá-la." 



(Mario Vargas Llosa, in 'O Sonho do Celta')

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Ano Novo


Ano Novo
Ficção de que começa alguma coisa!
Nada começa: tudo continua.
Na fluida e incerta essência misteriosa
Da vida, flui em sombra a água nua.
Curvas do rio escondem só o movimento.
O mesmo rio flui onde se vê.
Começar só começa em pensamento.

                                   (Fernando Pessoa)


sábado, 14 de novembro de 2015

As Crianças

E uma mulher
que trazia um menino ao colo
disse:

- Fala-nos das Crianças.

E ele respondeu:

- Os vossos filhos
não são vossos filhos:
são filhos e filhas
do chamamento da própria Vida.

Vêm por vosso meio
mas não de vós;
e apesar de estarem convosco,
não vos pertencem.

Podeis dar-lhes o vosso amor;
mas não os vossos pensamentos:
porque eIes têm pensamentos próprios.

Podeis acolher os seus corpos;
mas não as suas aImas:
porque as suas aImas
habitam a casa de amanhã
que não podeis visitar,
nem sequer em sonhos.

Podeis esforçar-vos por ser como eles;
mas não tenteis fazê-los como vós.

Porque a vida não vai para trás,
nem se detêm com o ontem.

Sois os arcos, e os vossos filhos
as setas vivas projectadas.

O Arqueiro vê o alvo no caminho do infinito,
e reteza-vos com o seu poder
para que as setas
possam voar depressa para longe.

Que a vossa tensão na mão do Arqueiro
seja de alegria.

Porque assim como Ele gosta
da seta que voa,
também gosta do arco que fica.


                                             (Khalil Gibran, in 'O Profeta')

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

"A birra apanhou-me!"

Esta é a "nossa" estória! Partilho-a agora com vocês.
Começou há seguramente 3 anos e meio. Começa com um urso a que demos o nome de "Urso Mau" (não sei explicar a escolha do nome, pois o Urso Mau é um fixe!).

A Popotinha é uma criança igual a qualquer outra: exige mimo, montanhas de atenção, autonomia, quer brincar tanto como dormir, frusta-se tal como ri e sorri, grita e fala alto, quer abraços e quer que a entendam. Tem birras como eu e tu! 
Mas, às vezes, as birras ficam com ela, ela não lhes consegue fugir. Nessas alturas, pergunto-lhe: "_ A birra apanhou-te!", com carinho, empatia... Ela confirma! Então montamos a caça à birra! Tiro-a do sítio onde está, vamos para ao pé de uma janela ou porta, e tiro-lhe a birra. Ás vezes está nas costas, outras atrás das orelhas e é retida nas minhas mãos em concha e atirada pela janela/porta ou vai para o bolso quando não tenho alternativa. Para ela não voltar, o Urso Mau apanha-a e fica com ela. 
Já aconteceu ir de férias e as birras eram muitas. A Popotinha confidenciou-me que o Urso Mau tinha ido de férias também. Pedimos reforços: chamamos o seu primo - o Urso da Natura!

A Popotinha agradece sempre ao Urso da Natura quando o vê!
Já chegámos a ir de férias para bem longe e pedimos antecipadamente para que eles os dois viessem connosco. Mas as birras vinham tanta vez aborrecer a Popotinha que tive de perceber o que se passava. A Popotinha disse-me que eles aproveitaram o passeio e foram fazer canoagem de manhã e ainda não tinham voltado. Quando eles voltaram, invoquei o contrato das férias. Que falta de profissionalismo!! 
O Urso Mau já chegou a ficar com birras minhas e do pai também. Mas voltaram e a perspicácia da Popotinha informa-me que tinha deixado a janela aberta e a birra era tãaao grande que o Urso Mau não a aguentou sózinho. Ajudou-me a tirá-la de cima de mim e chutamo-la pela janela com força e rapidamente fechamos a janela. Ufa!!

Ok! Vamos a explicações de desenvolvimento infantil.
O lobo frontal começa a desenvolver-se mais, com grandes ligações neuronais, após um ano de idade. Deve-se à necessidade do bebé de aprender as percepções sociais e emocionais do mundo evolvente. Começa a perceber o que é certo e o que é errado, normas de conduta da sociedade (nesta fase, meramente relacional-dual), o que é esperado ou não dele. Então começa a perceber melhor como relacionar-se com o mundo, começa a perceber como pedir, chamar a atenção, e a lidar com frustrações, necessidades de outros níveis para além do dormir, comer e querer o corpo da mãe/pai. Um fabuloso mundo de ligações começa em força! Lindo! "Os terriveis 2" estão aí! Há especialista que referem que não existe esta fase, considerando que o desenvolvimento neuronal não termina, então não existe fase. Existe aprendizagem e formas de lidar com as nossas próprias emoções, alternativas, aceitações...
Até sensivelmente aos 7 anos, o pensamento mágico domina o mundo da criança!
Perceber isto, quer dizer que podemos utilizar as técnicas de externalização de todas as emoções que a criança ainda não sabe o que é, quanto mais nomeá-las! Lembrem-se que as birras dizem respeito a uma necessidade não colmatada, de segurança, de fome, de sono, de necessidade de conexão! (mais informação aqui e aqui

Outro exemplo prático, pode ser em relação ao monstro que teima em estar no quarto. Podemos ajudar a procurar e podemos estimular a empatia da criança e a sua curiosidade nata para lhe perguntar: "_ Sério? Será que ele quer jogar às escondidas? O que será que ele quer? Será que tem sede? Podíamos-lhe deixar um copo de água! Será que ele se quer aquecer? O teu quarto até é quentinho."

Percebem a ideia?

E a vossa estória, qual é? :)

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Lidando com a morte!

A perca recente do meu pai ainda não me permite vir aqui escrever com uma estrutura de pensamento e, acima de tudo, de concentração, que me permitam fazer um texto bonito! Mas tenho intenções! 

Entretanto queria partilhar convosco as partilhas que a minha mestre me vai fazendo!
Tem lidado com a morte de perto este ano e, com 4 anos, percebeu que a vida é finita! A angústia maior foi perceber que "os pais também morrem?!"

Hoje, antes de adormecer disse-me: "Sabes mãe, os pais não morrem! (Sorriu) Eles vivem sempre no nosso coração!"


domingo, 16 de agosto de 2015

Quem precisa de time-out somos nós!

Ontem, enquanto praguejava babuseiras, cá em casa, aproposito do Sr. Jonas Pistolas fazer as necessidades na sua zona de conforto (que só por mero acaso TAMBÉM É A NOSSA) a Popotinha veio chamar-me a atenção que fui incorrecta e dura e que da próxima vez tinha de ir ter um "chá de cadeira"!
Parei! ... Sorri! E assumi:
"-Tens razão! Enquanto tivesse na cadeira fico a fazer o quê?"
"-Olha, ficas a pensale, quelalo!!"
"-O que devo pensar, Popotinha?"
"-Olha, metes o dedo aqui (coloca o indicador no queixo) e ficas lá!"

Repara, a Popotinha não sabe o que fazer!
Quando dizemos às crianças que "Vão para a cadeira" temos de ter noção que elas não sabem pensar... sozinhas! Elas são seres humanos que vivem no auge das suas emoções, mas ainda não lhe sabem dar nomes. Então a criança percebe que tu estás zangado e que não gostaste do que ela acabou de fazer. Mas sente que não gostas dela, não do comportamento que ela fez. 
Repara no que dizes: "Já te disse que não se morde nos teus amigos!", "Não se empurra!", "Quantas vezes tenho de te chamar?!" - dizes tudo o que não é para fazer. Está na altura de dizeres o que é para fazer!
Repara, antes dos 7 anos, não existe pensamento abstracto! Tudo é concreto, imediato, causa efeito e sentido na pele. 

Acompanha, então, a criança, no seu pensamento, no seu sentimento, nas suas fragilidades e conexões maravilhosas acontecem no córtex frontal (responsável pelo discernimento do bem e do mal, das escolhas, de tempo...) e contigo!

Às vezes, o peso da nossa historia e tradição fala mais forte. Eu sei! Sou como tu! Por isso, quando estou claramente a perder os meus limites...:
"Vai já para o teu quarto... que eu já lá vou ter!"
Retiras a criança do sitio da birra, tens tu o teu time-out, respiras, e transformas um momento de descontrolo numa verdadeira conexão - time-in!